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Matemática divertida e delirante

FALANDO SÉRIO

O título de hoje é o mesmo de um livro editado na década de 60 do século passado. Seu autor é o famoso autor de histórias orientais, Malba Tahan que muitos pensam ser das terras de Bin Laden. Não é não, trata-se do brasileiríssimo professor Júlio César de Mello e Souza.
No ano de 1968 quando este escriba cursava o primeiro ano da Escola de Engenharia de Taubaté, um professor já famoso por suas excentricidades de nome Ortiz, lecionava Cálculo Numérico e, numa certa noite apareceu para dar sua aula, acompanhado do já famoso Malba Tahan. Isto mesmo, os alunos do professor Ortiz, naquele ano tiveram uma aula divertida e delirante com o conhecido escritor que, tinha sido professor do Ortiz no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro.
O professor Ortiz virou político profissional, foi Prefeito de Taubaté e o Malba Tahan ensina matemática no céu há muitos anos.
Fato é que sempre tive uma predileção pela matemática, embora um certo professor do ginásio em que estudei, fez de tudo para desencorajar-me, a mim e a meus colegas, e a detestar a matéria. Tudo ficou melhor e mais claro quando, já no científico do Estadão, apareceu, vindo da cidade de Santos uma santa. Realmente, a professora Maria Lúcia foi uma “aparição” em nossa vida. Mostrou-nos como a matemática era simples e Divina.
Já dizia o matemático Gauss: “O clamor dos beócios é coisa muito séria em matemática”.
Agora vejam o que aconteceu recentemente na cidade de Trento na Itália.
A alegação, solenemente apresentada diante do Tribunal Regional daquela cidade, parecia inacreditável. Viviane L., aluna da 3ª série do Liceu Científico Leonardo da Vinci, explicava: - Eu não tenho nenhuma dificuldade com a matemática. Eu simplesmente “odeio” a matemática, ela me causa um bloqueio psicológico, e por isso eu fui reprovada. Não é justo.
E os advogados deram-lhe imediatamente razão, ou, pelo menos, o benefício da dúvida. A história foi contada no diário italiano La Repubblica, e se resume ao seguinte: Luciana ficou perturbada quando apareceu no quadro de notas, ao lado de seu nome, a palavra “reprovada”, devido a uma sofrível nota 3 de matemática. E resolveu levar o acaso ao Tribunal.
Os advogados recorreram a um psicólogo de renome, lá mesmo em Trento, e solicitaram uma perícia nos meandros da mente da sua cliente. E o psicólogo não economizou no verbo: Viviane nutre um “medo obsessivo”, uma verdadeira “patologia psicológica” em relação à matemática.
A coisa pegou fogo. Os advogados apresentaram em petição ao tribunal: “Viviane L. é perturbada por uma total e invencível idiossincrasia pela matemática, e apesar de seus esforços, e da ajuda da família, ela foi apenas se agravando, até atingir a atual insuficiência grave nessa matéria, causa única da reprovação”.
E completam a tese: “Todas as notas de Viviane são boas, entre 7 e 9 nas outras matérias, com média 7. Ela está particularmente bem em línguas estrangeiras. A insuficiência em matemática não deriva de um escasso empenho escolástico, como supõe o conselho da classe, mas sim de um verdadeiro bloqueio psicológico em relação à matéria, que vem desde a infância, até chegar à atual situação que o psicólogo define como irreversível”.
E continuam os advogados: “A reprovação equivale a dizer que Viviane verá agora definitivamente encerrada a sua carreira escolástica, com a renúncia a qualquer aspiração aos estudos superiores”.
Bingo! O tribunal discutiu a questão na reunião do conselho e apresentou sua decisão: “Viviane passa à 4ª série do Liceu”.
Pode comemorar, portanto, todo aquele que a matemática atormenta. A jurisprudência, como vimos, já existe.
Ou, reze para a “aparição” de uma santa em sua vida.
Ah! Para quem quiser entender a verdadeira importância da matemática, de sua influência em todos os aspectos da vida, recomendo: “O poder do pensamento matemático” – “A ciência de como não estar errado” de Jordan Ellenberg. EDITORA ZAHAR.

Joinville, 16 de setembro de 2021.
Henrique Chiste Neto







  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

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