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Discernir o que vem e o que não vem de Deus

Discernir o que vem e o que não vem de Deus
Nem tudo o que vem à cabeça provém diretamente de Deus. Há diferença entre a voz de Deus e a nossa voz. A que eu devo prestar atenção? Não há uma maneira única de discernir estas coisas. Aqui vou propor apenas alguns pontos para reflexão
1)Se uma distração durante a oração provoca ansiedade, inquieta o seu espírito ou o afasta da sua oração, pode, de fato , não ser simplesmente uma distração, mas o que Santo Inácio de Loyola( 1491-1556) chamava o espírito do mal; um impulso que o desloca de Deus e impede o seu progresso espiritual.
Neste caso, esse espírito está tentando afastá-lo de Deus ou, mais precisamente, está usando a distração para o fazer. A última coisa que esse espírito quer para si é que se aproxime de Deus. Em geral, o mau espírito tanta deslocá-lo em direção quer a maus propósitos ou, inicialmente, para um sentimento de desespero e desesperança. Santo Inácio escreve nos Exercícios Espirituais que numa boa pessoa o mau espírito procura causar ansiedade torturante, entristecer e colocar obstáculos. Desta maneira, pertuba-a com razões falsas que visam evitar o seu progresso.
Uma forma simples de compreender é se está sentindo desespero, desesperança ou inutilidade, isso não vem de Deus, porque, como Santo Inácio compreendeu que esses sentimentos conduzem e impedem o progresso na vida.
Sempre que se der conta de que está dizendo coisas como: nada vai melhorar, toda gente me odeia, ninguém me ama, estou sempre falhando ou nunca serei capaz de mudar, nunca acerto na vida, não mereço o melhor é muitas vezes um sinal da presença desse mau espírito. Perceba quando usa essas frases universais e tente não ouvir esses impulsos.
Pelo contrário, escreve Santo Inácio, o espírito bom, o espírito que conduz a Deus, é aquele que age desta maneira: fomenta a coragem e a fortaleza, consolações, lágrimas, inspirações e tranqüilidade, que nos conduz a buscar coisas boas e edificantes, que nos leva a mudanças positivas de vida.Torna as coisas mais fáceis e elimina todos os obstáculos, de maneira que a pessoa pode progredir fazendo o bem.
O mau espírito pode ser reconhecido quando sente desespero, peso no espírito, ambiente pesado; o bom espírito quando sente esperança e leveza de espírito. Por isso, quando tentar discernir o que vem e o que não vem de Deus, este é um bom lugar para começar. Quando sentir desespero, não o escute; quando sentir esperança, siga-a.
2) Faz sentido? Se alguém esta rezando durante um tempo difícil da sua vida, e espontaneamente recordo outro tempo quando Deus estava comigo durante os meus combates, talvez eu possa ver nessa memória o desejo de Deus para que eu confie. Ou talvez eu tenha a memória de um lugar que me traz uma grande dose de calma, e então relaxo. Esta é uma maneira que Deus tem de nos acalmar. Faz sentido que Deus me convide a confiar? Sim, parece que faz sentido, ou pelo menos enquadra-se naquilo que está acontecendo na minha vida.
3) Conduz a um crescimento em amor e caridade? Este critério provém do Evangelho de Mateus, no qual Jesus diz: “Haveis de os conhecer pelos seus frutos”( 7,17-18). Diz um provérbio árabe: “Deus julga a árvore por seus frutos, e não por suas raízes”. A voz de Deus pode ser conhecida pelos seus efeitos. Se seguir este impulso conduzir a um crescimento em caridade e amor, incluiria paz então é muito provável que venha de Deus. Se uma ação não conduz a um aumento em amor e caridade, esse ímpeto não virá, provavelmente, de Deus.
4) Será que encaixa no que sei de Deus? Encaixa com o Deus que conheço da Bíblia, tradição e da sua própria experiência? Deus não o vai fazer odiar-se a si próprio ou acreditar que nada pode novamente dar certo, porque esse não é o Deus do Antigo ou do Novo Testamento, não é o Deus revelado em Jesus , e não é o Deus que conhece. Deus dá esperança, não desespero.
5) É a realização de um desejo? Questão difícil. Como podemos saber se é o que gostaria que Deus lhe dissesse? Por vezes, o que queremos ouvir é de fato o que Deus nos diz. Se estiver ansioso, rezar a Deus por alívio e se sentir mais calmo, é provavelmente Deus. Não há nada de errado em, na oração, obter o que se quer. Isto não é necessariamente a realização de um desejo; é Deus a dar-lhe o que precisa.
Mas é preciso que seja cuidadoso(a) para não associar na oração a resposta que deseja. O melhor antídoto para isto é a paciência, esperar pelo tempo em que Deus fala claramente. Muitas vezes nestas situações demora tempo, e a maneira como Deus responde não é a maneira como inicialmente imaginamos que Deus responderia. Se a oração é autêntica, Deus vem quando eu não o espero e numa situação que não domino.
6) É importante? Deus entra na nossa oração com mais freqüência quando há um assunto importante em mãos. Isto não significa que Deus não pode entrar na nossa consciência quando quiser ou sobre uma questão qualquer que seja. Se essa entrada acontecer durante um tempo de urgência, pode ser considerada como sinal da presença de Deus.
Discernir o que vem de Deus e o que pode vir de si é uma arte. É uma arte fundamental para a vida espiritual em seu crescimento e vivência.
25.03.2020 Prof. Dr. José Pereira da Silva







  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA