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Suicídio Assistido: problemas e limites éticos

Os meios de comunicação divulgaram o falecimento do escritor, filósofo e compositor Antônio Cícero (1945-2024)., membro da Academia Brasileira de Letras, através do suicídio assistido, procedimento realizado na Suíça.
A morte assistida ou suicídio assistido ou morte medicamente assistida é o auxílio para a morte de uma pessoa, que pratica pessoalmente o ato que conduz à sua morte , ao seu suicídio. A criação de risco é gerada pelo próprio paciente. No suicídio assistido é o próprio paciente quem pratica o ato ao se autoadministrar uma dose letal de um fármaco, prescrita por um médico.
O suicídio assistido não é uma saída ética, vai contra a ética. É uma questão bastante polêmica e complexa do ponto de vista humano, científico e principalmente ético. Ao se discutir sobre eutanásia e suicídio assistido temos que ter clareza de conceito, primeiramente para evitar ambiguidades.
A vida é dom do Criador e que o controle sobre a vida que a pessoa detém é uma questão de administração e não de autonomia absoluta. A vida humana é o fundamento de todos os bens. Nada ou ninguém pode autorizar que se dê a more a um ser humano. É um crime contra a vida e de atentado conta a humanidade.
É preciso que aumente a sensibilidade e uma cultura do cuidado perante uma cultura do descarte, que infelizmente é o solo fecundo para o suicídio assistido e a eutanásia. Diante dessa mentalidade é preciso reafirmar o sim à vida e aos cuidados paliativos, que leva em conta não apenas o doente, mas também a sua família nos momentos finais da vida.
Não podemos aceitar a eutanásia ou o suicídio assistido porém devemos desenvolver os cuidados paliativos diante do aumento do número de idosos, do aumento das doenças crônicas entre outros. É preciso cuidar dos doentes nos aspectos humano, espiritual, familiar e social.
A opção pelos cuidados paliativos deve ser o caminho diante da proposta do suicídio assistido pois é uma opção de humanidade , evitando que os últimos tempos de vida não sejam de dor e de abandono, porém momentos em que a dor possa ser controlada e até derrotada e que o acompanhamento seja efetivo e real.
É preciso proporcionar uma morte verdadeiramente digna que consiste em deixar viver e acompanhar quem está vivendo seus últimos momentos da sua existência. É preciso dar-lhe afeto e atenção, aliviando sua solidão. Isso é dignidade. A dignidade humana não é gozar de boa saúde, porque ninguém goza de uma saúde perfeita. Quando estamos doentes não perdemos a dignidade. A dignidade deve ser sempre estender a mão e cuidar. A dignidade tem uma dimensão maior que consiste em estar uns ao lado dos outros, querendo sempre o bem e cuidando.
O suicídio assistido é uma derrota da sociedade, pois o suicídio é sempre um pedido de socorro e de amor que não foi atendida, bem como uma resposta inapropriada à demanda de amor de outra pessoa. A pessoa que está pretendendo cometer suicídio deve ser convencida de que ela é importante para nós e para outras pessoas.
Infelizmente a sociedade em certos momentos vive uma cegueira cultural em que surge um falso conceito de liberdade, dignidade e autonomia. É preciso relações humanas autênticas para que a vida tenha plenitude. O suicídio assistido é na prática a ausência do sentido da vida, que muitas vezes aparece camuflada e latente em muitas pessoas. É preciso questionar os limites éticos da prática do suicídio assistido e da eutanásia.
O que é preciso é aliviar o sofrimento e não a vida, assegurar cuidados paliativos para todos que precisam e investir na investigação científica para curar ou aliviar certas enfermidades, investimento público. A vida não pode ficar à mercê de ideologias mais ou menos camufladas. A doença se enfrenta com a medicina e com a fé. Enquanto a ciência médica combate a doença e a fé alimenta a esperança, combate o desespero e garante a serenidade de espírito. Existem muitos casos de reversão de estados dados incuráveis e de conquistas morais feitas com fé.
Não podemos impedir a morte no seu processo natural, mas acelerá-lo não devemos. Não podemos jamais atentar contra o humano e contra Deus. Redescobrir o valor e a beleza de estarmos juntos e assim vencer o sofrimento e a solidão afastando o desejo de destruir a vida. Diante de doentes com enfermidades graves devemos confirmar o doente na sua dignidade e na sua preciosidade.
É preciso escavar bem fundo e descobrir no sentido da vida e na construção de sentido existencial que restitui o valor, o amor próprio e a esperança. Não podemos banalizar a morte. O que permite a essência da humanidade e a liberdade é a própria vida, é essa deve ser cuidada e defendida em todos os momentos da existência, do nascer até a morte natural.
25.10.2024 Prof. Dr. José Pereira da Silva







  • Fontes: PROFESSOR DR. JOSÉ PEREIRA DA SILVA