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Papo de sacristia

FALANDO SÉRIO

Prá variar, na sexta feira última, fim de tarde, e a Quarentena a exigir providência, levava-me a pensar em passar no Fritz e destampar umas ampolas geladas. Dito e feito. Semana cumprida, nada quase a fazer; o que sobrou, se é que sobrou, fica prá semana que vem, afinal, estamos em Quarentena. Rumo ao Fritz, de máscara e sem peso na consciência.
Ao chegar e ser saudado pelo Fritz, como de praxe, fui logo convidado para sentar-se em uma mesa com dois outros mascarados, desconhecidos para mim, porém, já conhecidos do alemão; eram viajantes que sempre paravam ali para se refrescarem. Feitas as apresentações, entrei rápido na conversa que já se desenrolava. Falavam de causos que envolviam padres de antigamente. Oremus!
O viajante que residia em Itajaí (82 km de Joinville rumo ao sul), estava falando de um tal padre Horácio que tinha sido amigo de infância e colega de escola de sua mãe e, que já em fim de carreira, foi “exilado” para Araquari (20 km de Joinville rumo à São Francisco do Sul), cidade em grande desenvolvimento, abençoada pelo Senhor Bom Jesus, que é seu padroeiro.
Pois bem, sempre ia à São Francisco, continuava o viajante falador (você já viu algum que não seja?), fazia uma parada em Araquari a fim de gastar e molhar a palavra, pois além do excelente papo, o padre Horácio tinha uma caninha esperta, envelhecida em barrilete de carvalho para me servir.
Numa dessas paradas contou-me a história de um frequentador assíduo da sua igreja que o tinha procurado de manhã cedinho, antes da missa das sete, visivelmente perturbado.
- Que foi filho? – perguntou o padre.
- Ah! Padre, preciso falar com o senhor, pedir um aconselhamento.
- Sobre o quê, filho?
- Sobre minha mulher, o senhor conhece ela, foi quem celebrou o casamento, uma muito bonitinha, chamou a atenção no dia, lembra?
- Lembro, lembro, sei quem é. De fato, bonita mesmo. Deus a conserve.
- Pois ela deu prá aparecer lá em casa, um dia com um brinco, outro dia com um colar, agora com um casaco de pele.
- Trabalha fora?
- Sim, é secretária de uma grande firma em Joinville. Os patrões gostam muito dela, chegam até a viajar juntos à serviço da empresa.
- Huuummmm!!!
- Foram ao nosso casamento e nos deram um presentão. Mas estou começando a desconfiar que alguma coisa não está certa.
- Vocês já têm filhos?
- Não, ela não quer, temos evitado.
- Então, meu filho, vai tranqüilo e fica certo de que uma mulher bonita como a sua e bem administrada, rende mais do que a minha paróquia.
No meio de uma gargalhada geral o Fritz correu e trouxe mais uma gelada, puxou a máscara para o lado e então exclamou:
- Eu non entenderr... podem me equisplicar?
E a gargalhada se rompeu novamente...

Joinville, 20 de maio de 2020.
Henrique Chiste Neto








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