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MÊS DE LOBATO

FALANDO SÉRIO

Monteiro Lobato

Mês de abril, mês de Lobato que aniversaria no próximo domingo, dia 18. Presumo eu que a “terrinha” está comemorando, apesar da quarentena, a Semana Monteiro Lobato por esses dias. Oswaldo Barbosa Guisard idealizador e incansável organizador da Semana, buscava sempre “tirar água de pedra” para poder realizar seu intento, que era o de homenagear nosso escritor maior. Imagino que ainda hoje se realizem as semanas dentro de uma mesmice de programação, ou não? Visita ao túmulo do escritor em são Paulo, festinha para a criançada no Sítio do Pica Pau Amarelo (este ano prejudicada). Antigamente até uma torre de petróleo era colocada na Praça Dom Epaminondas.
Quando, na metade da década de 1960, fazia eu o científico no “Estadão”, que tinha como sobrenome: Monteiro Lobato, as maratonas literárias serviam para os alunos ilustrarem as comemorações da “Semana”. Renato Teixeira, José Carlos Sebe, Jojô, Luiz Consorte, Regina Romeiro (Reca), Bel Faisal, Dudu... Affff! E tantos e tantos outros que fazíamos a juventude taubateana, competíamos através de trovas e sonetos, na busca de distinções junto aos mestres, Cesídio, Jerônimo, Ciniro e Branca,
É verdade que a memória deste nosso conterrâneo maior deva ser ressaltada desta maneira, mas, isto não basta. Acreditamos haver esforço inaudito de uns poucos abnegados no sentido de homenagear e perpetuar a obra do escritor; é pouco, muito pouco... quase nada!
Dotado de um profundo sentimento de nacionalidade, Monteiro Lobato desgostoso dos adultos, dedica-se à literatura infantil. É através de seus personagens, criados para entreter as crianças, que passa, maravilhosamente sua mensagem aos mais velhos.
É pelo Pó de Perlimpimpim que transporta as crianças do mundo inteiro ao Sítio do Pica Pau Amarelo, não este abandon..., digo plantado na Chácara do Visconde, mas para aquele onde não há horizontes limitados por muros de concreto e de ideias tacanhas.
...”deixo de lhe enviar sugestões porque já vi coisas demais e não tenho a mínima confiança na sinceridade, na honestidade dos nossos dirigentes” – escreveu certa feita referindo-se à organismos do Governo Vargas.
Lobato foi um tipo raro de escritor cuja obra é o reflexo de sua ação prática.
Pelos seus personagens diz tudo o que pensa. Narizinho e Pedrinho são crianças de ontem, hoje e amanhã, querendo ser felizes, confrontando suas ideias com o que os mais velhos dizem, mas sempre acreditando no futuro. Emília torna-se sua legítima porta-voz.
Em uma de suas correspondências a um amigo, irritado com as sandices governamentais (imaginem Lobato hoje), termina assim sua missiva: “Deixemos o Brasil apodrecer em paz. Nasceu bichado, vai morrere bichado. Está seguindo o seu destino biológico”. E vejam que isto data de 1935.
Em 1948, quando a vida já se lhe chegava ao fim, deixou esta ideia: “No dia em que em vez de dependermos da Constituição, dependermos da polícia, só teremos uma coisa a fazer: mudar de terra ou de mundo”.
A benção José Bento Monteiro Lobato que, caipira como eu, pela sua pena, fez tremer os mais fortes e sorrir os mais frágeis.

Joinville, 15 de abril de 2020.

HENRIQUE CHISTE NETO






  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

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