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SAINT-HILAIRE

O taubateano comum é um tipo alegre, festeiro, que coloca apelido nos amigos, que encontra graça em coisas simples da vida.
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Digo "cidadão simples", não os mocorongos que aderem a todos os modismos impostos pela mídia: tatuagens, piercings, tranças, cabelos estranhos e coloridos.
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Como você não sabe, no Século 19 passou pelo Vale do Paraíba um botânico e escritor francês - cujas iniciais você está vendo no topo deste texto e na foto - que registrou alguns usos e costumes por aqui.
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Queira sentar-se que lá vem história.
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Quando um cidadão conhecido aniversariava, ao anoitecer um grupo de "amigos" se reunia, indo em bloco até a casa do aniversariante, tendo à frente - como não poderia deixar de ser - duas bandas de música:
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A Corporação João do Carmo e a Philarmônica Taubateense - que o Zé Povinho abreviava para "Banda dos Ursos" e "Banda dos Paraguaios".
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Escolhia-se um orador e marchavam ao som de dobrados ate´a casa do escolhido, com fogos (naturalmente) onde comiam e bebiam tudo que encontrassem pela frente.
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Não havia uma semana em que os espiões locais não descobrissem um aniversariante, bem postado financeiramente, para repetir a caminhada e aproveitar a proveitosa boca livre.
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Outro costume observado pelo francês, era quando uma pessoa encontrava-se enferma - até em agonia antes de subir a Rua Humaitá "discostas" - ao anoitecer saía da Catedral de São Francisco das Chagas um cortejo de fiéis, tendo à frente o sacerdote e um cidadão agitando uma barulhenta "matraca".
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Dirigiam-se à casa do doente onde deveriam ser-lhe ministrados os sacramentos da comunhão pelo precário estado de saúde.
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O zé povinho costumava dizer que quanto maior o número de pessoas, pior era o estado de saúde do enfermo.
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O francês narra também o fato de ter visto muitas mulheres sentadas à soleira de suas casas, cada uma delas com outra mulher no colo, da qual catava piolhos e lêndeas nos cabelos. Não se esqueça das precaríssimas condições de higiene da época.
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* Mais um texto de meu último livro "Tribos de Taubaté", atualmente esgotado.






  • Fontes: JOSÉ DINIZ JUNIOR