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URUPÊS

Como você não sabe, quando menino a mãe de Monteiro Lobato o mandava fazer qualquer coisa e ele mostrava corpo mole, ela dizia: "Ande menino, parece urupê de pau podre".
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Queira alojar essa nádega volumosa no sofá que lá vem história, aborígene.
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Dom João VI criou a Imprensa Nacional. Monteiro Lobato criou o LIVRO no Brasil. Imprimiu por contra própria nas oficinas do Jornal O Estado de São Paulo o livro cujo título você está vendo na foto que minha secretina Nina Rolas escolheu para hoje.
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Lobato se decepcionou ao verificar que no Brasil todo havia umas trinta ou quarenta livrarias para vender seu livro.
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Ele havia comprado a Revista do Brasil e percebeu que sem canais de escoamento, sem o varejo par distribuir, não poderia alcançar sucesso.
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Mandou então uma circular à todos os agentes dos Correios, pedindo a indicação de uma casa, de uma papelaria, de um jornalzinho, de uma farmácia, de um bazar, de uma venda, de um açougue. Em suma, qualquer lugar que pudesse ser vendida uma mercadoria chamada LIVRO.
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Conseguiu com isso mil e duzentos nomes de casas comerciais recomendadas como "sérias".
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Redigiu uma circular: "Vossa Senhoria tem o seu negócio montado e quanto mais coisas vender maior será o seu lucro. Quer vender também uma coisa chamada livro?"
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"É um artigo comercial como qualquer outro, batata, querosene ou bacalhau. Vossa Senhoria receberá esse artigo em consignação, não perderá coisa alguma no que proponho. Se vender o tal "livro" terá trinta por cento de comissão. Se não vender, me devolverá pelo Correio com o porte por minha conta".
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Foi um abalo no País inteiro, algo fulminante. A procura de livros tornou-se de tamanha que não havia o que chegasse.
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As edições que antes eram de 500 exemplares, imediatamente pularam para três mil exemplares em média e começaram a sair quatro, cinco, seis mil por semana.
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Chegou a ter uma edição de 50 mil exemplares de "Narizinho Arrebitado".
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Somente em 1918, aos 36 anos de idade, é que Lobato surgiu com uma brochura chamada Urupês.
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Ideia por tantos anos pensada, discutida e lentamente amadurecida, tornava-se realidade.
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"Ou faço coisa que preste, que esborrache o indígena, ou não faço coisa nenhuma", declarou à minha secretina Lívida.
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O livro era para chamar-se "Dez Mortes Trágicas", mas por indicação deste que vos fala, achou que nesse título havia muita tragédia junta.
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E Lobato mudou para Urupês, nome do artigo que descrevia a figura do imortal Jeca Tatu.
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* Fonte de Referência; "A Diversas Facetas de Monteiro Lobato" - José Antonio Pereira Ribeiro - nascido em Lorena - da minha biblioteca particular.







  • Fontes: JOSÉ DINIZ JUNIOR