| 235

Pato?..., mas nem tanto!

FALANDO SERIO



Cheguei no restaurante do Fritz e encontrei uma discussao das maiores. Estavam la o Ranza, o Fritz e mais dois clientes para mim desconhecidos, mas pelo sotaque eram de descendencia tedesca (alema, se e que voce nao sabe).
O assunto era o pato. Na realidade, o alemao e o Ranza mais prestavam atencao e questionavam sobre o assunto, e os desconhecidos iam dando explicacoes, entre uma golada e outra da Heinecken, que enfeitava e dava sabor a reuniao daquele final de tarde.
- O Chisteca chega aqui, e vem aprrender, uma veiz, tudo sobrre o pato.
- Sobre o pato, Fritz?
- E isto mesma, pato, o marrida da pata!
E la fui eu me embrenhar na conversa, onde me apresentaram os desconhecidos. Eram dois colonos, amigos do Fritz, que moravam na regiao do Rio da Prata, localidade da residencia do alemao e que desenvolviam uma criacao desta desengoncada criatura.
Sem dominar o assunto eu quis entender por que “pato”, e nao o popular marreco que e tipica sua criacao por esta regiao?
Imediatamente comecei a receber uma profunda aula das caracteristicas deste azarado “primo do Gastao”.
Em primeiro lugar o preco do quilo do pato e mais caro, pois seu tempo de choco e engorda e longo. Ele e mais carnudo e macio, evitando caracteristicas de ossudo que estamos acostumados.
Outra caracteristica anunciada pelos criadores, e muito ressaltada pelos “experts” e o sabor proprio de carne vermelha de ave, com aspectos e lembrancas da vida selvagem de seus antepassados, mas sem os excessos decorrentes da carne de caca (cuidado com o Ibama).
A esta altura da conversa eu ja estava meio convencido que um jantar com pato no cardapio era realmente uma boa e precisava ser experimentada.
A conversa continuava interessante tanto pelo que o exotico assunto imprimia, quanto pelas ampolas de Heinecken que iam sendo destampadas.
Foi quando um dos novos amigos comentou sem muito entusiasmo, que o grande desafio era o ponto do abate, ao que me tornei novamente curioso, pois nao entendia como isto poderia ser tao problematico.
Novamente uma aula, mas muito mais surpreendente, pois conforme ele nos ensinou o pato engorda ate entrar na puberdade, e quando comeca a “ciscar” a pata, tem que ir para o abate. Segundo o nosso amigo dai em diante vai emagrecer e tal momento exige atencao e presenca no cotidiano da criacao.
Continuei curioso e sugeri o obvio, ou seja, preparar machos e femeas, ao que recebi uma sonora gargalhada de admiracao e o seguinte comentario: - O que? Com o pato? Mas o homem ta maluco?
Agora mais assustado sem saber qual a besteira que eu havia dito, ouvi: - Pato nao tem jeito, pato quer pata o tempo todo, e tem mais, nao e uma somente, sao muitas patas, pois se ficar com poucas ou sem, ele vai pra cima de quem estiver disponivel, e pode ser o amigo, o irmao ou ate o ganso descuidado.
A esta altura, ja literalmente perplexo perguntei para ele se esta energia toda era transmitida pela refeicao elaborada com pato, e para minha surpresa ouvi que isto ele nao sabia.
Insisti, perguntando se como criador ele nao comia ou nao gostava de carne de pato, ao que meio envergonhado, respondeu: - Adoro pato, mas a patroa que e quem cozinha, somente muito de vez em quando deixa eu comer pato, pois ela diz que nao tem coragem de correr o risco da “forca” passar para mim.
E naquela noite fui embora admirado e curioso para saber se a energia surpreendente do pato e transmissivel.
Bora la comprar um patinho para fazer ensopado.

Henrique Chiste Neto








Mais Fotos

  • Fontes: HENRIQUE CHISTE NETO

Últimas Notícias