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CARTA DO ALMIRANTE OCTÁVIO DE MELLO ALMEIDA FILHO À DOM ORANI JOÁO TEMPESTA

Sr Cardeal D. Orani João Tempesta,
Sou nascido no seio de uma família católica e nessa Igreja batizado e, como a maioria de nós, paraenses, fervoroso devoto de N. Sra de Nazaré. Diariamente eu e minha esposa acompanhamos as celebrações levadas a efeito pelas TVs católicas Aparecida e Rede Vida como Terços, Missas e Novenas. Depois que o Papa resolveu fazer o Sínodo da Amazônia, os sacerdotes, nessas celebrações, de formas bem características de seguirem uma orientação central, fazem militância no sentido de, indiretamente, criticarem, com argumentos distorcidos e falsos, posições atribuídas aos brasileiros quanto às políticas ambientais e indígenas. Na Novena Solene de hoje à tarde (5/10), veio uma moça que se dizia indígena, fazer manifestações na mesma linha de orientação. Cardeal, sem querer lhe faltar ao respeito, mas não podendo, calar a minha indignação como brasileiro e católico, pergunto com que autoridade o Estado do Vaticano, sob a capa de motivação religiosa se imiscui em assuntos internos do nosso País? Seria plausível ou aceitável que o Governo Brasileiro organizasse um Seminário para discutir, com âmbito mundial, convidando representações que combatem crimes sexuais, especialmente contra as crianças, e trazendo aqui centenas de testemunhas, os desvios, para não dizer crimes, que, pelo mundo todo, padres católicos, pedófilos, cometeram e provavelmente muitos ainda o fazem e, pior, não mereceram das autoridades da Igreja ações corretivas? Certamente não deveria fazê-lo e pelas mesmas razões que não cabe a Igreja fazer em relação aos assuntos brasileiros. Do mesmo modo, só porque nosso País atualmente procura combater corrupção e faz parte de acordos internacionais com esse propósito, deveria organizar Congressos para debater a corrupção no Banco do Vaticano ou em outras dioceses como tem sido relatado em diversos Órgãos da Imprensa? Certamente também não. Como católico senti muito que nosso País deixasse de ser a maior nação católica do mundo. Felizmente, por seus valores morais, permanece cristã em sua imensa maioria. Como Cardeal, não lhe sobra a justificativa da ingenuidade ou da falta de conhecimento para perceber que o recuo da presença do catolicismo em nosso País deveu-se, em grande parte, às opções que a Igreja, em passado não muito distante, fez de imiscuir-se em assuntos políticos na América Latina, e só na América Latina, porque nada de semelhante observei em outras regiões do mundo. Os nomes de Leonardo Boff, Frei Beto, Teologia da Libertação, entre outros, não podem lhe ser estranhos. A conduta de intensa militância política que muitos sacerdotes adotavam na época, mereceu do famoso jornalista e intelectual Nelson Rodrigues, como lhe é atribuído, a constrangedora denominação de "padres de passeata". Os senhores colocaram em segundo plano os assuntos da Fé para se dedicarem aos assuntos da militância política, em geral contaminados por interesses nem sempre os mais nobres e voltados para benefício da população em geral, como deveria ser. Os povos que mais foram contaminados por essa pregação política se encontram, atualmente, em condições piores no campo do bem estar social, alguns até passando fome e à mingua de qualquer apoio médico hospitalar e condições mínimas de liberdade, migrando em desespero para outros países. A propósito, Cardeal, por falar em populações miseráveis e desassistidas, refugiadas, migrantes, sem esperança, talvez até perdendo a Fé, pergunto: Por que o Vaticano, melhor dizendo, o Papa e seus Cardeais, não organizam um grande movimento mundial em favor de refugiados? São mais de trinta milhões de refugiados, oriundos da Somália, Sudão, Síria e tantos outros países da África, espalhados em campos pelo Quênia e outros países, às centenas de milhares, em aglomerados humanos maiores que muitas metrópoles mundiais, em condições sub humanas de vida, mas há, também, refugiados das Américas, saindo da Venezuela e de países da América Central, humilhados, presos, filhos separados dos pais quando chegam às fronteiras dos seus sonhos e que dizer dos refugiados que, tentando atravessar o Mediterrâneo em busca da próspera e tão civilizada Europa, morrem às centenas, naufragando e, se e quando chegam, são escorraçados, impedidos de desembarcarem pela imensa falta de humanidade dos Governos e Instituições locais? E, Cardeal, não são antípodas, são vizinhos próximos do Vaticano, distantes poucas centenas de quilômetros. Isso não sensibiliza a Igreja? Será que a Cúpula da Santa Sé não se move para a prática da Caridade? Pense, Cardeal, como as pessoas, tão sofridas, tão abandonadas podem conservar a Fé? Como as pessoas desesperadas, vendo tudo ao seu redor ruir, podem conservar a Esperança? Como as pessoas tão maltratadas e rejeitadas podem acreditar na Caridade? Assim, as Virtudes Teologais, Fé, Esperança e Caridade que santificam as nossas práticas cristãs, seriam, para aquelas pessoas, apenas palavras, conjuntos de letras sem sentido. O silêncio da Santa Sé, nesse particular, se torna um brado que nega os sagrados ensinamentos e exemplos de Cristo. É sintomático e curioso que as correntes chamadas de esquerda, tão criticas ao Papa Emérito, que antecedeu o atual, e que contribuíram, ao que parece aos cidadãos comuns, para a sua renúncia, são extremamente pródigas em relação a elogiarem as atitudes do Papa Francisco. Sejamos práticos, quando vemos um conjunto que, doutrinariamente, é ateu e herético se por a incensar e elogiar as atitudes do Papa Francisco é que alguma coisa está ocorrendo em favor daquele conjunto. Como é inerente ao conjunto a proposta de desfazimento das atuais organizações sociais e seus costumes e substituí-las por outras de modelo "progressista", o nosso Papa está sendo um inocente útil. Não consigo vê-lo, ainda, como um convertido às esquerdas, mas todos sabem que quem se deita com cães acorda com pulgas. Há pouco, em nosso País, surgiu uma proposta absurda de Projeto de Lei, de autoria de um parlamentar, dito de esquerda, sob alegação de que se trata de um País laico, para retirar de nossas cidades, logradouros, instituições públicas etc nomes de santos ou com apelo religioso que, eventualmente, os denominassem. Assim, D. Orani Tempesta, peço, encarecidamente, que reflita, juntamente com seus pares, sobre os rumos que está tomando a nossa Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Ainda que o Papa Francisco pretenda assumir ares de um Grande Reformador da Igreja, adotando práticas mais liberais e inovadoras que, diga-se de passagem, não são consensuais no seio da própria Igreja, lembro que, muitas vezes, quem busca ser popular, acaba se tornando vulgar e Martinhos Luteros podem surgir a todo tempo em busca dos fundamentos eclesiásticos.
Apesar de tudo, confio que os ares benditos da Amazônia tenham impregnado o seu coração e seu intelecto e o façam compreender os verdadeiros anseios da nossa alma cabocla, que dispensa e repudia tutores estrangeiros, e não o deixem se enganar e encantar pelos cantos de sereia que, geralmente, levam a escolhos e, sobretudo, que as bênçãos de Deus e N. Sra de Nazaré o iluminem.
Por oportuno, participo que se Vossa Eminência desejar dar ciência ao Papa dessas ponderações, o autorizo e até peço que o faça, pois não teria outra forma de acesso à Sua Santidade.
Atenciosamente,
Octavio Mello"






  • Fontes: Autor: ALMIRANTE OCTAVIO MELLO ALMEIDA FILHO

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